Definição
A impotência sexual, também conhecida como disfunção erétil (DE), é a incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para a atividade sexual satisfatória. Esta condição pode ser um sinal de problemas de saúde física ou psicológica e pode afetar significativamente a qualidade de vida dos indivíduos.
Incidência e Prevalência
A disfunção erétil é uma condição comum que afeta milhões de homens em todo o mundo. A prevalência da DE aumenta com a idade, mas pode ocorrer em homens de todas as idades.
- Globalmente: Estudos indicam que a prevalência global da disfunção erétil varia entre 3% a 76,5%, dependendo da população estudada e dos critérios diagnósticos utilizados. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 30 milhões de homens sofram de algum grau de disfunção erétil. A prevalência aumenta com a idade: cerca de 50% dos homens entre 40 e 70 anos apresentam algum grau de disfunção erétil. Além disso, fatores como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e obesidade aumentam o risco de DE.
- No Brasil: A prevalência da disfunção erétil no Brasil é significativa. Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revelou que aproximadamente 45% dos homens brasileiros acima de 40 anos enfrentam algum grau de disfunção erétil. A prevalência aumenta com a idade, sendo que cerca de 50% dos homens entre 40 e 70 anos apresentam algum grau de DE. Além disso, fatores culturais e socioeconômicos podem influenciar a prevalência e a percepção da disfunção erétil no Brasil.
Fatores de risco para Disfunção Erétil
Diversos fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimento da disfunção erétil, e é importante conhecê-los para prevenir e tratar essa condição de maneira eficaz.
1. Idade Avançada: A prevalência da disfunção erétil aumenta com a idade. Homens mais velhos são mais propensos a desenvolver DE devido a mudanças naturais no corpo, como a diminuição dos níveis de testosterona e o aumento de problemas de saúde crônicos.
2. Doenças Crônicas: Condições como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardíacas são grandes fatores de risco para a disfunção erétil. Essas doenças afetam a circulação sanguínea e a saúde dos vasos sanguíneos, essenciais para uma ereção saudável.
3. Problemas Psicológicos: Ansiedade, depressão, estresse e problemas de relacionamento podem contribuir significativamente para a disfunção erétil. A ansiedade de desempenho, em particular, pode criar um ciclo vicioso onde o medo de falhar leva à própria falha.
4. Uso de Medicamentos: Certos medicamentos, como antidepressivos, anti-hipertensivos e antipsicóticos, podem ter efeitos colaterais que incluem a disfunção erétil. É importante discutir com um médico qualquer alteração na função erétil ao iniciar um novo medicamento.
5. Maus Hábitos de Vida: O consumo excessivo de álcool, tabagismo e uso de drogas recreativas são fatores de risco significativos. Essas substâncias podem danificar os vasos sanguíneos e reduzir o fluxo sanguíneo para o pênis, além de afetar negativamente a saúde geral.
6. Obesidade: Estar acima do peso ideal pode levar a problemas cardiovasculares, que por sua vez podem causar disfunção erétil. A obesidade também está associada a níveis mais baixos de testosterona, o que pode reduzir a libido e a capacidade de manter uma ereção.
7. Sedentarismo: A falta de atividade física regular pode contribuir para a disfunção erétil. O exercício ajuda a melhorar a circulação sanguínea e a saúde cardiovascular, além de reduzir o estresse e melhorar a autoestima.
8. Alterações Hormonais: Níveis baixos de testosterona são uma causa comum de disfunção erétil. Esse hormônio é crucial para a libido e a função erétil, e sua deficiência pode resultar em dificuldades para manter uma ereção.
9. Problemas Neurológicos: Doenças como a esclerose múltipla, a doença de Parkinson e lesões na medula espinhal podem afetar os nervos que controlam as ereções, levando à disfunção erétil.
10. Alterações Anatômicas: Deformidades no pênis, como a doença de Peyronie, que causa curvatura anormal do pênis, podem dificultar a obtenção ou manutenção de uma ereção. Essas condições podem ser dolorosas e impactar a função sexual.
11. Cirurgias e Traumas: Cirurgias na região pélvica ou traumas que afetam os nervos e vasos sanguíneos do pênis podem resultar em disfunção erétil.
12. Fatores Genéticos: Embora menos comuns, fatores genéticos também podem desempenhar um papel na disfunção erétil. Algumas condições hereditárias podem afetar a função erétil e a saúde vascular.
13. Estilo de Vida e Dieta: Uma dieta pobre em nutrientes e rica em carbo-hidratos pode contribuir para problemas cardiovasculares e, consequentemente, para a disfunção erétil. Manter uma alimentação balanceada é essencial para a saúde sexual.
14. Saúde Mental: A saúde mental é crucial para a função erétil. Homens que sofrem de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, frequentemente experimentam disfunção erétil como um sintoma secundário. Ainda, alguns medicamentos para ansiedade e para depressão causam disfunção erétil.
15. Fatores Ambientais: Exposição a toxinas e poluentes ambientais pode afetar a saúde geral e a função erétil. Produtos químicos encontrados em pesticidas e plásticos, por exemplo, podem interferir nos níveis hormonais.
Para prevenir a disfunção erétil, é importante adotar um estilo de vida saudável, que inclua uma dieta equilibrada, exercícios regulares, controle do estresse e evitar o uso de substâncias nocivas. Além disso, é fundamental realizar check-ups médicos regulares para monitorar a saúde geral e tratar qualquer condição subjacente que possa contribuir para a disfunção erétil.
Sobre os fatores de risco para disfunção erétil, recomendo ler minha dissertação de mestrado, basta clicar na imagem abaixo e ler na íntegra.
Ferramentas Diagnósticas e Métodos de Diagnóstico
Ainda hoje os homens tem dificuldade em abordar o assunto da disfunção erétil com o seu médico. Por um lado, muitos médicos não proporcionam a necessária liberdade de expressão para que os pacientes expressem as dificuldades sexuais durante a consulta, assim renegando a disfunção sexual (como um todo) a um segundo plano de importância. Por outro lado, muitos pacientes tem preconceito de abordar esse assunto com o seu médico. Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é o completo bem estar biológico, psíquico e social do indivíduo: portanto, vemos que a saúde sexual é parte indissociada da saúde geral das pessoas. E a sua disfunção sem dúvidas acarreta sofrimento.
O diagnóstico da disfunção erétil envolve uma abordagem multifacetada que inclui a avaliação médica, exames laboratoriais e testes específicos. Contudo, a base do diagnóstico está na história clínica.
1. Histórico Médico e Sexual: O primeiro passo no diagnóstico da DE é uma avaliação completa do histórico médico e sexual do paciente. O médico fará perguntas sobre a saúde geral, medicamentos em uso, hábitos de vida e histórico sexual para identificar possíveis causas subjacentes. Questões sobre a frequência, duração e qualidade das ereções, bem como sobre a libido e a satisfação sexual, são cruciais para o diagnóstico.
2. Exame Físico: O exame físico pode revelar sinais de problemas sistêmicos. O médico examinará os órgãos genitais e verificará sinais de problemas hormonais, como ginecomastia (aumento das mamas nos homens) ou distribuição anormal de pelos. Além disso, o exame físico pode incluir a avaliação do pulso periférico para detectar problemas vasculares.
3. Exames Laboratoriais: Testes de sangue são realizados para medir os níveis de testosterona, glicose, colesterol e função renal. A avaliação hormonal é crucial, pois níveis baixos de testosterona podem contribuir para a disfunção erétil. Outros exames laboratoriais podem incluir a avaliação da função tireoidiana e dos níveis de prolactina.
4. Testes Psicológicos: Fatores psicológicos como ansiedade, depressão e estresse podem contribuir para a DE. A avaliação psicológica pode incluir questionários e entrevistas para identificar esses fatores. A presença de problemas de relacionamento ou de estresse no trabalho também pode ser avaliada.
5. Testes Específicos:
- Teste de Ereção Noturna: Este teste avalia se o paciente tem ereções durante o sono. A presença de ereções noturnas normais sugere que a causa da DE é mais provavelmente psicológica. O teste pode ser realizado em casa com um dispositivo portátil que registra as ereções noturnas.
- Ultrassom Doppler Peniano: Este exame avalia o fluxo sanguíneo no pênis. É utilizado para identificar problemas vasculares que podem estar contribuindo para a DE. O ultrassom Doppler pode detectar a presença de placas ateroscleróticas ou de insuficiência venosa.
- Injeção de Prostaglandina (teste de ereção fármaco-induzido): Um medicamento que induz a ereção é injetado diretamente no pênis. A resposta à injeção ajuda a determinar se a causa da DE é vascular. Este teste pode ser combinado com o ultrassom Doppler para avaliar a resposta vascular ao medicamento.
Porque diagnosticar a DE? Além de melhorarmos a qualidade de vida das pessoas, é de fundamental importância que se diagnostique a disfunção erétil porque ela serve de marcador para doenças cardiovasculares. Recomendo ler a minha tese de doutorado (basta clicar na imagem abaixo) para ver como o diagnóstico da disfunção erétil é um marcador precoce de doença coronariana, particularmente em homens mais jovens (com menos de 60 anos de idade).
Tratamentos
O mais importante é deixar claro que a disfunção erétil tem tratamento eficaz na maioria dos casos. Evidentemente que para atingir esse objetivo, várias terapêuticas são empregadas, sempre num escalonamento de invasibilidade, dos métodos mais conservadores (comportamentais, psicoterapêuticos etc), passando pelos métodos medicamentosos (hormonais, medicações orais e/ou injetáveis) até os mais invasivos (incluindo os modelos mais modernos de prótese peniana). Seja com um ou outro método, isolado ou em associação, sempre há possibilidade de tratamento da disfunção erétil.
O tratamento da disfunção erétil depende da causa subjacente e pode incluir uma combinação de abordagens.
1. Mudanças no Estilo de Vida: Modificações no estilo de vida podem melhorar significativamente a função erétil. Isso inclui:
- Exercícios Físicos: A atividade física regular melhora a circulação sanguínea e a saúde cardiovascular, ambos essenciais para a função erétil. Exercícios aeróbicos, como caminhada, corrida e ciclismo, são particularmente benéficos.
- Dieta Saudável: Uma dieta equilibrada rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras pode melhorar a saúde geral e a função erétil. Dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares refinados devem ser evitadas.
- Cessação do Tabagismo: Fumar pode danificar os vasos sanguíneos e reduzir o fluxo sanguíneo para o pênis. Parar de fumar pode melhorar a função erétil. Programas de cessação do tabagismo e o uso de substitutos de nicotina podem ser úteis.
- Redução do Consumo de Álcool: O consumo excessivo de álcool pode afetar negativamente a função erétil. Reduzir ou eliminar o consumo de álcool pode ser benéfico. O consumo moderado de álcool, no entanto, pode não ter um impacto significativo na função erétil.
2. Terapia Psicológica: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser eficaz no tratamento da DE causada por fatores psicológicos. A TCC ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos negativos que podem estar contribuindo para a DE. A terapia de casal também pode ser benéfica para resolver problemas de relacionamento que podem estar afetando a função erétil.
Sobre o tratamento psicológico da disfunção sexual, recomendo ouvir o seguinte PodCast, elaborado pela Liga Acadêmica de Urologia da UFCSPA, contando com a participação da Dra Sandra Scalco, sexologista. Basta clicar na figura abaixo para acessar o podcast.
3. Medicamentos: Os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), como sildenafil (Viagra), tadalafil (Cialis) e vardenafil (Levitra), são comumente prescritos para tratar a DE. Esses medicamentos aumentam o fluxo sanguíneo para o pênis e ajudam a obter e manter uma ereção. Eles são geralmente tomados antes da atividade sexual e têm uma taxa de sucesso elevada. No entanto, esses medicamentos não são adequados para todos os homens, especialmente aqueles com certas condições cardíacas ou que tomam nitratos.
4. Dispositivos de Ereção a Vácuo: Esses dispositivos criam uma ereção por meio de sucção. Um anel de constrição é colocado na base do pênis para manter a ereção após a remoção do dispositivo. Os dispositivos de ereção a vácuo são uma opção não invasiva e podem ser eficazes para muitos homens. No entanto, alguns homens podem achar o uso do dispositivo desconfortável ou inconveniente.
5. Injeções Penianas (farmacoterapia intracavernosa): Medicamentos como alprostadil, prostaglandina E1 e fentolamina podem ser injetados diretamente no pênis (no corpo cavernoso) para induzir uma ereção. Este método é eficaz para muitos homens que não respondem aos medicamentos orais. As injeções penianas podem causar efeitos colaterais, como dor no local da injeção e fibrose local (que pode evoluir para tortuosidade peniana). Mas o grande risco desse tratamento injetável é a ocorrência de ereções prolongadas, chamadas de priapismo. É muito importante ter cuidado com a dose e sempre sob orientação específica de um urologista, pois o priapismo é uma situação grave e que induz uma falha na resposta erétil subseqüente.
6. Cirurgia: Em casos graves de DE, refratários ao tratamento medicamentoso, clínico e psicológico, a cirurgia pode ser uma opção.
As opções cirúrgicas incluem:
- Cirurgia Vascular: Em casos muito específicos de de problemas vasculares pontuais, a cirurgia pode ser realizada para melhorar o fluxo sanguíneo para o pênis. A cirurgia vascular é geralmente reservada para homens mais jovens com problemas vasculares específicos. Nos homens mais idosos, geralmente o dano vascular crônico é difuso, não sendo indicada a cirurgia vascular nessa circunstância.
- Implantes Penianos: entendemos que o implante de prótese peniana deve ser sempre a última opção, empregado apenas quando há falha dos tratamentos medicamentoso, clínico e psicológico. Assim sendo, o índice de satisfação com os implantes de prótese peniana é de 80%. Devemos saber que é um método de tratamento irreversível, pois depois que se coloca uma prótese peniana, a ereção sempre será aquela obtida pela prótese. Isso ocorre porque os cilindros das próteses são implantados dentro dos corpos cavernosos, que têm a sua anatomia completamente alterada. Não é possível, por exemplo, retirar a prótese e voltar a responder aos medicamentos orais. Claro que há como trocar de prótese (de modelos mais simples a modelos mais complexos, por exemplo). Ainda que muito pouco incidentes, há chance de complicações do implante de prótese peniana, como infecção, dor local e extrusão da prótese (pela pele ou pela uretra).
Há modelos vários de próteses penianas, desde os mais simples aos mais complexos. A prótese mais comumente empregada é a prótese maleável. Consiste em duas hastes de silicone com uma liga metálica dentro de cada uma das hastes. Essas hastes são colocadas dentro de cada corpo cavernoso. É possível dobrar o pênis com prótese para baixo ou para o lado, de forma a esconder na roupa e não tornar aparente, apenas se retificando com as mãos para ter uma relação sexual (por isso o termo maleável). Veja na figura abaixo como isso ocorre:
Os modelos mais complexos são os de 3 volumes. Trata-se da prótese mais elaborada, com um sitema hidráulico com um reservatório (que normalmente é implantado na região suprapúbica), dois cilindros expansíveis (colocados nos corpos cavernosos penianos, um de cada lado) e uma válvula de acionamento que é implantada no escroto. Cada um desses 3 componentes é interconectado ao outro por um sistema de canais de silicone, de forma que ao acionar o botão da válvula escrotal (por compressão através da pele), o sistema transfere o líquido do reservatório até os cilindros, que se distendem (aumentando em tamanho e em espessura), promovendo a ereção desejada. Novo acionamento da válvula escrotal irá esvaziar os cilindros, transferindo o líquido novamente para os reservatórios, dessa forma tornando o pênis o mais próximo do estado flácido. Aqui percebemos duas vantagem única dos modelos de 3 volumes, em relação ao modelo maleável de prótese peniana: 1) apenas as próteses de 3 volumes permitem que o pênis retorne ao estado mais próximo do flácido possível - no modelo maleável, o pênis sempre está ereto, apenas se dobra para esconder na roupa; 2) apenas as próteses de 3 volumes permitem que na ereção ocorra um ganho de espessura do pênis em relação ao estado de flacidez, como ocorre naturalmente na ereção masculina. Veja na foto abaixo como é uma prótese de 3 volumes.
Considerações Finais
A disfunção erétil é uma condição tratável na maioria dos casos. É importante que os homens que enfrentam essa condição procurem ajuda médica para identificar a causa subjacente e iniciar o tratamento adequado. O tratamento eficaz pode melhorar significativamente a qualidade de vida e o bem-estar emocional dos homens afetados e de seus parceiros. Além disso, a educação e a conscientização sobre a disfunção erétil são essenciais para reduzir o estigma associado à condição e encorajar os homens a buscar tratamento.
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